Todas as Fomes.

por Edson Bueno de Camargoedson.jpg

Não há meio de agradar a todos o tempo todo. Isso faz parte da vida, e quanto mais cedo descobrimos nossas limitações menos sofremos. O Sarau de Todas as Fomes veio a que se propôs, servirá como um processo de maturação do grupo das poéticas da oralidade, o cimento e a cola deste novo grupo, que a partir de agora será tão veterano quanto o anterior. Se havia qualquer dificuldade de integração entre os novos e a turma sobrevivente do ano passado, sinto isso totalmente dissipado. Pessoalmente gostei muito deste Sarau e da proporção que atingiu, com erros e acertos naturais, algumas pessoas mais afoitas que as outras (isso se corrige com o exercício permanente de se reunir) novidades e o prato principal, calor humano.

Não esperava muito deste Sarau, não que considerasse meus colegas incapazes, mas principalmente por mim, sou um pessimista natural, um chato neurótico de carteirinha, entrei numa trip que me desconcertou totalmente. Num grupo de pessoas muito capazes e eficientes, corri o risco de me tornar um peso, ações coletivas exigem que desçamos um degrau em nossa vaidade e subamos dois na disciplina. Sou tudo menos disciplinado. Tenho sim uma paciência e uma determinação de um Jó.

Alguns de nós não entenderam que ao libertar a obrigação dos grupos se apresentarem, não perceberam que manter o grupo seria também um ato libertário. Alguns se frustraram e outros regozijaram., o que é plenamente normal. Tudo está em construção o tempo todo, este é o charme e o diferencial da Escola Livre de Literatura. Aprendemos com nossos erros e acertos, mas aprendemos principalmente com nossa busca pelo prazer, e não há tesão maior que estar entre amigos. Senti uma energia muito legal emanada de todos os grupos, a Nayê já havia me alertado para um calor que emanava nas reuniões de segunda-feira. o calor intenso que inundou o salão da Casa da Palavra quando do exercício proposto pela Mônica. Algum formalismo dos convidados, confortáveis em suas cadeiras, mais mesmo um processo de timidez, mas acima de tudo um grande movimento de vanguarda, não perdemos o espírito rebelde. Somos nestes momentos uma resistência aberta a massificação global impostas por nosso primos do norte.

Algumas pessoas não sentiram o calor emanado das pessoas em transe poético, talvez não se sintam convidadas a vir novamente. Outras não compreenderam o que aconteceu de fato, mas curiosas retornarão. Mas algumas delas, e é ai que começa a magia, se sentirão compelidas a freqüentar este grupo tão heterogêneo e ao mesmo tempo tão aguerrido. Meu neto quase dá seus primeiros passos, ensaiados no chão de tábuas lisas. Me diverti muito, fui para casa com uma sensação de bem estar e embora fisicamente cansado, ganhei gás e energia para recarregar as velhas pilhas.
Continuo perguntando o que um grupo de pessoas faz numa noite fria de maio, reunidos em torno da palavra, que estranho fetiche é este.

Sarau de Todas as Fomes – Casa da Palavra – Santo André – 20/05/2006

Published in: on June 4, 2006 at 2:48 pm  Leave a Comment  

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